Sem fantasia

Vem, meu menino vadio
Vem, sem mentir pra você
Vem, mas vem sem fantasia
Que da noite pro dia
Você não vai crescer

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus

Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu

Ah, eu quero te dizer
Que o instante de te ver
Custou tanto penar
Não vou me arrepender
Só vim te convencer
Que eu vim pra não morrer

De tanto te esperar
Eu quero te contar
Das chuvas que apanhei
Das noites que varei
No escuro a te buscar
Eu quero te mostrar
As marcas que ganhei
Nas lutas contra o rei
Nas discussões com Deus
E agora que cheguei
Eu quero a recompensa
Eu quero a prenda imensa
Dos carinhos teus



Totalmente sem fantasia, só decepção.

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Sinto-me meio Geni nesses dias enlouquecidos. Feito pra apanha, bom de cuspir.

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo
- Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão

Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Descanço.

Quero descansar, sair errante por entre estradas, e não mais voltar. Deixar esse mundo vazio, de pessoas vazias, de coisas vazias, e me encontrar em outro lugar, com outras pessoas e talvez, outra alma e outro corpo.
O cansaço domina meu espírito, por que meu corpo ele já levou. Preciso sentir outros tons, toques e cheiros, melodias e cores, ritmos e vibrações diferentes. Preciso sair daqui, me libertar, gritar e fugir.
Socorro tire-me desse corpo que já não mais é meu. Liberte-me dessa alma que já não mais é minha, e dessa vida que já deixou de ter sentido. Não quero mais isso, não quero mais aquilo, e não quero mais você. Você que vive comigo, que me aflige e que me atormenta, você, dor, que não quer me deixar mais.
Não quero mais dor e vazio, quero maciço e felicidade, alegria e principalmente paz. Paz!
Não quero mais isso, não quero mais o meu eu em mim. Não quero mais ser o que sou, ter o que tenho e viver o que vivo.
“Eu perco o sono e choro, sei que quase desespero, mas não sei por que
A noite é muito longa, eu sou capaz de certas coisas que eu não quis fazer.”

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Quero descansar, sair errante por entre estradas, e não mais voltar. Deixar esse mundo vazio, de pessoas vazias, de coisas vazias, e me encontrar em outro lugar, com outras pessoas e talvez, outra alma e outro corpo.
O cansaço domina meu espírito, por que meu corpo ele já levou. Preciso sentir outros tons, toques e cheiros, melodias e cores, ritmos e vibrações diferentes. Preciso sair daqui, me libertar, gritar e fugir.
Socorro tire-me desse corpo que já não mais é meu. Liberte-me dessa alma que já não mais é minha, e dessa vida que já deixou de ter sentido. Não quero mais isso, não quero mais aquilo, e não quero mais você. Você que vive comigo, que me aflige e que me atormenta, você, dor, que não quer me deixar mais.
Não quero mais dor e vazio, quero maciço e felicidade, alegria e principalmente paz. Paz!
Não quero mais isso, não quero mais o meu eu em mim. Não quero mais ser o que sou, ter o que tenho e viver o que vivo.
“Eu perco o sono e choro, sei que quase desespero, mas não sei por que
A noite é muito longa, eu sou capaz de certas coisas que eu não quis fazer.”