Corsário

Meu coração tropical está coberto de neve,
mas ferve em seu cofre gelado,
a voz vibra e a mão escreve mar
bendita lâmina grave que fere a parede e traz
as febres loucas e breves que mancham o silêncio e o cais.

Roseirais, nova Granada de Espanha,
por você eu, teu corsário preso,
vou partir a geleira azul da solidão e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar, procurar o mar.

Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
meu coração tropical partirá esse gelo e irá
como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar
nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar.

Vou partir a geleira azul da solidão e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar, procurar o mar.

Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
meu coração tropical partirá esse gelo e irá
como as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar
nova Granada de Espanha e as rosas partindo o ar.

Mesmo que eu mande em garrafas mensagens por todo o mar
meu coração tropical partirá esse gelo e irá.






Do nada veio essa música no pensamento; talvez ela reflita um pouco de mim mesmo: "um icerberg dentro de uma piscina de plátisco"

Morrer nao dói

Morrer não dói! Não mesmo!
É engraçado como a vida é efêmera, que tudo que se conquista e se luta para ter, acaba do nada. E digo por experiência própria. Uma vez que se está dentro de um ônibus, e esse bate de frente com um outro veículo, numa rodovia movimentada, você percebe o quão frágil somos perante a imensidão de todo o restante que comanda, ou se preferir, auxilia (uso esse termo na falta de algo melhor) nossa vida. Num momento você está confortável em sua caminhonete super luxuosa, e no outro estirado no meio da pista.
Quão delicada é essa vida, e isso me dá uma duvida: será que, por ser tão delicada, devemos preservar nossa vida ao máximo, ou, se pelo mesmo motivo e já sabendo que ela terá um fim, vive-la intensamente, exaustivamente, suga-la ao máximo o quanto ela pode nos transformar e proporcionar? Viver 100 anos de delicadeza ou 20 de exaustão? Qual sua preferência? Qual sua resposta pra isso?
Mas, como diz a grande Mandy (sim, a do desenho animado): “Morrer é fácil, difícil é comédia!”. Salve Mandy e sua filosofia.
Eu acredito que preferia viver 20 anos de loucuras psicodélicas e aventuras gritantes a 100 anos tediosos e sem um motivo para vivê-los. Viver apenas por viver é demasiado cansativo; sem núcleo ou razão, a vida se torna um pesar. Talvez tenha sido isso que levou Sylvia Plath, Virginia Woolf, Florbela ou Hemingway a se auto findar? Ou talvez tenham vivido tudo que pensavam ter podido viver na vida, e simplismente cansaram dela, e preferirão se eclipsar? Talvez, apenas mais uma dúvida entre várias tantas.
Mas, a morte vem tão rápido, passa ao seu lado sem ao menos você perceber, e quando menos se espera, te leva, e você nao consegue notar, e talvez, apenas talvez, perceba o quanto deixou de viver e o quanto poderia ter vivido. Morrer não dói. Dói não viver, mas a morte não dói. Viver é tão raro. E os poucos que vivem, vivem além-morte, gravam seu nome tão fundo nas veias da história que eles jamais morrem; São lembrados decádas, séculos a frente, mas, viveram, e seus feitos, por viver, foram tamanhos que atravessaram o vácuo da história e não se perderam no tempo.
Enfim, como disse Assis Valente em seu último verso, antes de se eclipsar da vida e entrar para a eternidade: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo.”

Bagunça

Cedo ou tarde? Dia e noite. Paraíso e Inferno.
É engraçado como são tão opostos e fazem parte de um mesmo contexto, da mesma história e da mesma humanidade. Um se opõe ao outro. O homem se opõe a mulher, a criança ao idoso, a adolescência a vida adulta, a saúde a doença e assim segue. É engraçado se pensarmos nisso, por tudo, “aparentemente” tem seu oposto, mas, por que, oposto?
Por que essa idéia tão maniqueísta de mundo? Afinal, um completa o outro. O dia não existiria sem a noite, o homem sem a mulher, que seria da criança sem o idoso, ou da vida sem morte? Por que essa miserável tendência de olharmos o copo sempre meio vazio? É necessário trabalhar isso. Eu me pego assim, na grande maioria das vezes. Penso ser realista, mas, sempre penso no pior, e sempre na oposição; sempre o copo meio vazio e o quintal do vizinho com a grama mais verde. Tão sem nexo isso, tão escuro e obscuro para mim, não sei se é para quem lê, mas deve ser, talvez; Gosto das virgulas, percebe-se né? Bagunça, balaio de gato, bagunça e desconcerto! Justifiquei e expliquei minha vida! Justificar talvez (?) nem tanto, mas, explicar sim, expliquei. É um turbilhão de idéias e oposições. Comecei com os opostos, e a essa altura já sofro com os iguais.
Opostos, iguais, confusão e nexo, para que? Para o fim!

Noite

É noite. É triste. Noite triste. Noite sem fim. Tédio, cansaço e dor. Noites a fio assim, noites à dentro, dias a fora. Solidão, tédio. Noites.
E pra quê? Pra onde vou, pra onde vamos e pra que vamos? Estamos caminhando pra frente, ou estamos num eterno retrocesso onde, inevitávelmente encontraremos o fim? E por que fugimos do fim? Qual seu assombro, que nos assombra desde os primórdios? Por que não nos acostumamos com isso, com o fim? É inevitável, e é tão certo, e ainda assim nos assombra, assusta e fugimos dele. Será tão sombrio, tão repulsivo? Ou será a paz, a tranqüilidade que só o fim pode proporcionar? Dúvidas, perguntas, interrogações que jamais serão respondidas, até que cheguemos ao fim.
E nessa caminhada ininterrupta até o fim, nesse caminho tortuoso e desconhecido, ganhamos e perdemos (mais perdemos do que ganhamos) e pra que? E por que dessas perguntas, e por que dessas palavras? Nada.
Talvez eu queira o fim, talvez eu queira dar fim a isso. Ou talvez seja uma dor momentânea, que logo passará. E talvez essa solidão um dia volte a me abrigar. E talvez esse tédio seja conseqüência de uma existência que tende a ser superior aos demais, e que, por isso mesmo, me deixa só. Modéstia? Pura falsidade! Falsidade, hipocrisia.
Modéstia, escrúpulos! Qualidades boas? Não. Servem apenas para reprimir os instintos humanos, nos fazem sermos o que não somos, e negarmos nosso inegável e tão odiado egoísmo. Salve o egoísmo, a única qualidade nata ao homem!
Mais um cigarro queimado, mais um copo de uísque pra dentro, mais inebriado estou nessa vida alcoólica. Álcool suprime a dor. Cigarro engana o tédio. São (falsos) amigos, sempre presentes.
Raios no vidro da porta, é o sol clareando, invadindo tudo, e esquentando com seu calor meu corpo e coração frios. A noite se vai, a noite se finda. Vinde aurora.