Vazio. É extremamente vazio sentir-se vazio.
Não ter sentimento nenhum, nao ter alegria, tristeza, melancolia. Só vazio. É estranho, uma pessoa que sempre viveu um turbilhão de pensamentos, de raiva, odio, amor, rancor, alegria excessiva ou tristeza dominante estar assim, vazio.
Uma madrugada escura, o cigarro queima, o café já frio, a neblina enebria a rua, e aqui dentro, vacúo. Logo eu que tanto reclamei de ser tumultuado de pensamentos e sentimentos que nunca entendi; de amar e odiar o mesmo ser sem saber a destinçao da força de cada sentimento; logo eu que nunca parei, nunca descansei esse coraçao andarilho, errante, ferido e amargurado, estar assim, tão vazio.
Será o vazio da morte desse tal coração errante? Não sei dizer. Talvez meus sentimentos esteje em Lisboa, com ele, ou em São Paulo, ou perdido pelas ruas de Osasco, perdido com outros, mas nunca comigo mesmo. Talvez a inconstancia desse coraçao cansado de sofrer tenha afugentado qualquer sentimento que ronda por aqui e ali.

"Socorro não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
nao vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma mesmo que penada
me entregue suas penas..."

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?

Na noite escura e fria do final de agosto, cai uma fina garoa sobre a rua, cobrindo a todos com seus gélidos pingos, que lembram tão quão frias são as noite na mais profunda solidão, sem você.
É realmente inspirante estar no silêncio do seu quarto, com o único ruído a ser ouvir é o tamborilar das gotas finas contra a janela de ferro. É solitário, mas ao mesmo tempo reconfortante estar entre quatros paredes quentes e aconchegantes enquanto ao lado de fora da parede cai a chuva.
Além de inspirar, a chuva também é realmente engraçada. Não sei por que a acho engraçada, mas também não falo questão de saber. Basta saber que a acho engraçada e ponto.Talvez a graça da chuva seja em pensar que não só eu choro, mas o céu chora as lagrimas que não consigo derramar.
O devaneio das músicas tristes e do tamborilar da chuva na janela é relaxante e depressivo. A cada segundo que passa, pensamentos de findar a mim mesmo passa em meu cérebro tão abarrotado de informações, estas todas inúteis
É loucura tentar reter informações inúteis. E é mais loucura não conseguir descartá-las. É frustrante.
E a chuva não se abala, continua a cair fria, sozinha e contínua, pela madrugada a fora.