Noite

É noite. É triste. Noite triste. Noite sem fim. Tédio, cansaço e dor. Noites a fio assim, noites à dentro, dias a fora. Solidão, tédio. Noites.
E pra quê? Pra onde vou, pra onde vamos e pra que vamos? Estamos caminhando pra frente, ou estamos num eterno retrocesso onde, inevitávelmente encontraremos o fim? E por que fugimos do fim? Qual seu assombro, que nos assombra desde os primórdios? Por que não nos acostumamos com isso, com o fim? É inevitável, e é tão certo, e ainda assim nos assombra, assusta e fugimos dele. Será tão sombrio, tão repulsivo? Ou será a paz, a tranqüilidade que só o fim pode proporcionar? Dúvidas, perguntas, interrogações que jamais serão respondidas, até que cheguemos ao fim.
E nessa caminhada ininterrupta até o fim, nesse caminho tortuoso e desconhecido, ganhamos e perdemos (mais perdemos do que ganhamos) e pra que? E por que dessas perguntas, e por que dessas palavras? Nada.
Talvez eu queira o fim, talvez eu queira dar fim a isso. Ou talvez seja uma dor momentânea, que logo passará. E talvez essa solidão um dia volte a me abrigar. E talvez esse tédio seja conseqüência de uma existência que tende a ser superior aos demais, e que, por isso mesmo, me deixa só. Modéstia? Pura falsidade! Falsidade, hipocrisia.
Modéstia, escrúpulos! Qualidades boas? Não. Servem apenas para reprimir os instintos humanos, nos fazem sermos o que não somos, e negarmos nosso inegável e tão odiado egoísmo. Salve o egoísmo, a única qualidade nata ao homem!
Mais um cigarro queimado, mais um copo de uísque pra dentro, mais inebriado estou nessa vida alcoólica. Álcool suprime a dor. Cigarro engana o tédio. São (falsos) amigos, sempre presentes.
Raios no vidro da porta, é o sol clareando, invadindo tudo, e esquentando com seu calor meu corpo e coração frios. A noite se vai, a noite se finda. Vinde aurora.

0 comentários:

Postar um comentário